Meu incômodo com as chamadas “preliminares” ficou tão grande que decidi torná-lo o assunto da nossa conversa.
Na última semana dei uma entrevista para o Podcast “Tempo Pra Você”, da querida Gabi Albuquerque, e falamos muito sobre as dificuldades para vivenciar o prazer, principalmente para as mulheres, e da construção de novos roteiros que reforcem que o objetivo de uma relação sexual não é a penetração.
No mesmo dia, ouvi uma entrevista com a sexóloga Nadia Guimarães, reforçando essa mesma questão: sexo não é só penetração.
A partir daí, meu incômodo com as chamadas “preliminares” ficou tão grande que decidi torná-lo o assunto da nossa conversa.
O que é amplamente considerado é que qualquer atividade sexual que ocorre antes da penetração é uma preliminar, como se estivéssemos em um aquecimento para o evento principal. Assim, todos os beijos, abraços, toques e contatos estariam apenas preparando o corpo para este momento, mesmo que, nem sempre, esse seja o resultado.
A palavra “preliminar” vem do latim “praeliminaris”, que significa “o que acontece antes de se alcançar o limite e iniciar a ação”. Ou seja, depois da “preliminar” vinha a parte mais importante da história.
Consultando o dicionário Houaiss, 2001, p. 2286, encontramos o termo “preliminar” definido como algo que “antecede (o principal); prévio, preambular, introdutório; que antecede o ato sexual (jogos e carícias)”.
Fica claro que tudo o que temos aprendido sobre sexo está muito limitado e restrito à penetração resultado de uma cultura cheia de tabus e bastante repressora que enfocava o sexo de forma reduzida e só existente para a reprodução.
E os dados nos mostram o contrário. Pesquisas relatam que apenas 30% a 40% das mulheres chegam ao orgasmo com a penetração. A grande maioria das mulheres precisa de estimulação clitoriana para alcançar o auge do prazer. E a supervalorização da penetração ou o sexo genitalizado pode causar disfunções sexuais, como a anorgasmia (dificuldade em ter um orgasmo) e o desejo sexual hipoativo (diminuição ou ausência completa de fantasias eróticas e de desejo de ter atividade sexual).
É hora de mudarmos essa cultura e olharmos para o sexo de forma mais ampla e satisfatória abolindo os conceitos atuais e entendendo que o foco de uma relação é o prazer, a conexão e a intimidade entre os parceiros.
E nós, mulheres, não devemos nos sentir pressionadas a seguir padrões culturais ou sociais. Precisamos descobrir o que funciona para nós e para quem está conosco e desfrutar da relação de uma forma que seja satisfatória para ambos.
Como?
Experimentando a masturbação, seja sozinha para se autoconhecer, seja adotando a masturbação mútua como prática sexual;
Praticando o sexo oral, que é altamente estimulante, principalmente quando acompanhado por toques em outras regiões do corpo;
Realizando jogos sensuais e sexuais; e claro,
Não abrindo mão das carícias, por todo o corpo, afinal nossa pele com todas as suas terminações nervosas é o nosso maior órgão sexual.
Conversem e descubram o que funciona para vocês. E assim tornaremos ‘preliminares’ os bilhetes e mensagens provocantes, os jantares românticos, assistir um filme juntos, dançar, explorar novos lugares, e até mesmo receber nossa box.