Sempre fui uma mulher muito retraída. Desde a adolescência, muito tímida, andava sempre de cabeça baixa, não conseguia olhar as pessoas nos olhos. Isso tudo, com certeza, pela criação rígida recebida de pais fervorosamente religiosos. Com eles aprendi, na prática ou na marra – não sei bem dizer – que a mulher devia obediência ao homem, afinal ele é o provedor da casa, assim diziam.
Casei virgem. E não, não foi um namoro e um noivado regado a amassos escondidos. Rapaz da igreja, nossos pais eram muito amigos e faziam muito gosto daquela quase arranjada união. Conclusão: eu sequer tinha parâmetro para avaliar se minha vida sexual era satisfatória ou não. Mas quando vieram os filhos, comecei a ter noção de algo estava errado, uma vez que a prática sexual, que já era esporádica, tornou-se rara.
Quando questionei o porquê de não termos mais relações sexuais, fui tratada como uma mulher lasciva que, no lugar de se preocupar com as responsabilidades maternas e domésticas, estava procurando sexo. “Tá parecendo até puta”.
Comecei a me indagar onde teria sexo se não fosse no casamento. Aquilo não fazia sentido para mim. Achava, na verdade, que ele deveria se sentir lisonjeado por eu procurá-lo, mas pareceu quase uma ofensa. E mais uma vez a sensação de que havia algo muito errado em toda a minha vida se fez presente.
Eu sentia falta do toque dele e daquela sensação boa que percorria meu corpo quando isso acontecia. Muitas vezes, fiz sexo sem nenhuma vontade, é verdade. Mas eu acreditava que era minha obrigação como esposa atendê-lo. E creio que nunca faltei com minhas atribuições.
Até que um dia, voltando de uma consulta médica, resolvi parar em um restaurante na Av. Paulista para almoçar antes de voltar para casa. Minha mãe havia se comprometido a buscar as crianças na escola, caso a consulta atrasasse e decidi aproveitar este tempo, já que me levar para sair também era algo que meu marido não fazia mais.
Assim que me sentei, senti minha pressão baixar e tenho certeza de que meu rosto ficou sem cor. A algumas mesas, lá estava meu esposo acompanhado de uma mulher. Uma mulher que ria alto e à vontade, usava um batom vermelho e bijuterias grandes e chamativas, além de roupas bem diferentes daquelas que eu e as mulheres de nossa comunidade religiosa usávamos. Ele parecia, com ela, um homem totalmente distinto daquele que era comigo: a face sisuda deu lugar a um sorriso fácil e largo, suas mãos ora acariciavam os cabelos ondulados da mulher, ora apertavam sua cintura. Trocavam confidências no ouvido um do outro, demonstrando uma clara intimidade entre eles. Discretamente, sua mão desceu da cintura para as coxas e ali pousaram sem pressa de saída.
Então ele me viu. Estática. Boquiaberta. Desacreditada. Juntando as poucas forças que ainda possuía, me levantei e informei ao garçom que tinha desistido de almoçar. Saí sem olhar para trás. Cheguei em casa, coloquei as roupas dele em três malas e coloquei-as na garagem. Troquei as fechaduras das portas de entrada e, à noite, a única coisa que aquele homem conseguiu fazer foi pegar suas malas depois de ficar choramingando inverdades na garagem.
Depois daquele dia, decidi tomar as rédeas da minha vida de uma vez por todas. Rompi até mesmo com meus pais, pois achavam que eu deveria perdoar o infeliz, porque Deus é amor, o casamento é indissolúvel e blá, blá, blá. Consegui um trabalho e lá fiz amizade com uma jovem, a Juliana, que era o meu oposto: independente desde muito cedo, totalmente liberada sexualmente, desbocada. Mas eu a adorava. Acho que eu a invejava no fundo. Porque ela tinha uma vida que nem nos meus mais sigilosos sonhos eu me permitiria.
Aos poucos, com a ajuda da Ju, fui melhorando minha aparência. Já não me vestia mais como alguém que tem vergonha do próprio corpo, aprendi a combinar cores, ousar nas estampas. Passava até batom de cores mais provocantes. Mas os finais de semana em que meus filhos não estavam em casa continuavam a ser duramente solitários.
“Você precisa transar com alguém, Helena. E se não transar, brinca com seus dedos, menina!” Eu ficava roxa quando a Ju dizia esse tipo de coisa. Masturbação era, para mim, um verdadeiro tabu. E não conseguia me imaginar deitando na cama com ninguém. Me achava inexperiente demais para isso. E sendo sincera, me considerava desinteressante também.
Certo dia, a Ju entra desembestada na minha baia de trabalho: “Garota, você já viu o consultor financeiro que a empresa contratou? Ele ficará lá no segundo andar nas próximas três semanas. Um espetáculo de homem! Mulherada lá de baixo está em polvorosa!”. Passadas algumas horas, eis que o tal espetáculo de homem sobe ao terceiro andar para se apresentar ao chefe do meu setor. Puta que pariu, era mesmo um espetáculo de homem.
Era alto, seu corpo era bem definido sem ser demasiadamente musculoso. Seu rosto emoldurava um olhar forte e uma boca que, meu Deus…olhou para mim e abriu um sorriso que me fez engolir seco. Quando ele saiu da sala do chefe, eu me flagrei olhando para o volume de suas calças. Imediatamente senti calor, mesmo sendo um dia frio. “Que vergonha, Helena. O que está acontecendo com você?”, pensei imediatamente.
Todos os dias Pedro subia ao meu andar, pois tinha sempre muitos assuntos para tratar com o chefe do meu setor. E sempre passava pela minha baia. E sempre sorria para mim. E eu sempre quase que automaticamente olha seu volume. E sempre sentia calores percorrendo meu corpo. Em um determinado dia, Pedro não passou pela minha baia. Ele parou na minha baia. Ele não sorriu para mim. Ele falou comigo. “Ninguém nos apresentou ainda. Eu sou o Pedro. E você é a…?”. Tomada pela surpresa e pelo calor que estava ainda maior pela aproximação dele, engasguei com minha própria saliva e tive uma crise de tosse. Ju passando como quem não queria nada, me salvou: “O nome dela é Helena. Ela está com uma crise alérgica esta semana, tadinha”. Pedro, então, gentilmente pegou um copo de água para mim. E tudo o que eu conseguia pensar era que, além do copo de água, ele poderia enfiar a língua dele na minha boca também. O que estava acontecendo comigo??
Ao fim das três semanas de consultoria, a turma da empresa resolveu fazer um happy hour com o Pedro. Eu já estava sabendo, mas Pedro passou na minha baia e perguntou se eu iria no dia seguinte. Ju, na baia ao lado, bem ligeira, respondeu que nós iríamos sim. Pedro saiu deixando seu sorriso encantador e a Ju, mais que rápido me disse: “Na hora do almoço, nós vamos naquela loja da rua de baixo comprar uma roupa nova pra você! Uma roupa sexy. E decotada. Você vai vir amanhã com essa roupa pra poder ir pro happy hour depois. Sem negociação, Helena.”
No dia seguinte, no happy hour, eu não sabia direito como me comportar. Primeiro, porque não estava muito acostumada a sair. Segundo, porque a presença do Pedro me deixava um pouco desorientada. Havia música ao vivo e todos estavam muito animados. Espalhavam-se pelo local. Uns pelas mesas, outros dançando, outros em pé conversando. Eu, timidamente, sentada ao balcão.
Apesar da minha inexistente experiência em paquera, era impossível não perceber que Pedro me olhava insistentemente. Muitas mulheres queriam conversar com ele, ele dava atenção, mas de uma maneira ou outra, ele se livrava delas e tornava a me olhar. Só os olhares dele me faziam corar. Quando ele resolveu sair de onde estava e começou a caminhar em minha direção, senti meu corpo ficar ainda mais quente. Aquela sensação era boa, mas eu sentia medo, porque não sabia como me portar.
Ele se sentou no banco ao lado do meu. Disse algo que eu não entendi por conta da música alta, de modo que se aproximou para falar mais perto do meu ouvido. Imediatamente, um calor percorreu todo meu corpo, de cima a baixo, fazendo com que eu sentisse o meio das minhas pernas se umedecer. “Você sempre foi tímida assim?”. Eu não sabia o que responder. Que era introvertida por ter sido criada de forma reprimida? Que eu tinha casado sem nenhuma experiência e tinha feito sexo praticamente para procriar? Senti vergonha. E uma imensa vontade de sair correndo. Mas eis que aparece a Ju trazendo um drink chamado Sex on the Beach, que me deixou com mais vergonha ainda. Eu estava estudando inglês e sabia o que significava.
Ju ficou puxando papo por um tempo e pediu outro drink para mim, disse que eu precisava relaxar mais um pouco. Virou-se para o Pedro e perguntou se ele poderia me levar para casa mais tarde, pois ela tinha arrumado um paquera e iria esticar a noite com ele. Eu prontamente disse que não precisava, eu pegaria um carro de aplicativo sem nenhum problema. Neste momento, Pedro respondeu que fazia questão de tal gentileza. “Ela aceita, sim”, disse a Ju, mais que rápida, sempre tentando me ajudar a sair de minha inércia.
A Ju foi embora e a nossa conversa continuou e eu fui ficando mais relaxada, não sei se por conta dos drinks ou se por conta dele mesmo que não era somente um homem bonito, mas interessante, simpático e engraçado. Era evidente o interesse dele por mim. E por mais que eu não entendesse o que em mim havia chamado a atenção dele, aquilo me fazia bem. Era bom me sentir desejada! Eu percebia os olhares femininos para a situação. O sujeito que arrancou suspiros de toda a ala feminina e parte da masculina também durante as três últimas semanas com aquela que muitos sequer nunca haviam notado na empresa. Aquilo acariciava meu ego e o meu desejo por ser acariciada em outras partes crescia a cada instante.
Eu já não conseguia mais prestar muita atenção no que ele dizia. Eu só enxergava o movimento dos seus lábios e imaginava como seria se eles estivessem se movendo no meio das minhas pernas. Ondas intensas de calor tomavam conta do meu corpo, subindo e descendo com mais rapidez a cada vez. Senti minha calcinha ficar úmida, muita úmida. Pedi licença para ir ao banheiro e percebi que não só minha calcinha já se encontrava encharcada, como também minha calça começava a molhar. Tive a sorte de estar com uma calça preta, o que disfarçava o líquido que começava a sair de dentro de mim fora de controle.
Quando voltei, ele já não falava mais. Só me olhava. A maioria das pessoas que conhecíamos já havia ido embora. Se aproximou, cheirou meu pescoço, elogiando meu perfume. Um torpor tomou conta do meu corpo e da minha mente e eu já não conseguia mais pensar direito. Estava completamente tomada de tesão por aquele homem que conhecia tão pouco.
“Quer tomar um último drink na minha casa?”. Só acenei com a cabeça que sim. Eu realmente não sabia se conseguiria, se teria coragem, se me sentiria a vontade para ir mais além. Mas estava totalmente embriagada pelo charme daquele homem. Entrei em seu carro e as ondas de calor continuavam a transitar meu corpo como se fossem veículos alucinados em uma avenida sem limite de velocidade. Ele falava animadamente sobre gosto musical, algo sobre Rolling Stones, não me lembro bem, porque só conseguia pensar que queria aquelas mãos – agora sobre o volante – em cima dos meus seios. E por falar em seios, notei estar tão excitada, que meus bicos apresentavam-se rígidos sob o fino tecido da blusa nova. Eu mesma tive vontade tocá-los. Fiquei pensando se ele já os teria notado naquele estado.
Chegando em seu apartamento, Pedro fez de tudo para que eu pudesse me sentir a vontade. Colocou músicas de minha preferência, providenciou petiscos, abriu uma garrafa de vinho. Quando ele finalmente sentou no sofá, onde eu já estava acomodada, eu só conseguia pensar em como desejava beijá-lo. Ele pareceu ler meus pensamentos, pois meu desejo foi ardentemente atendido. Segurando minha cintura, foi me puxando cada vez mais para junto dele e, com delicadeza, mas também com firmeza, me trouxe para seu colo e, neste momento, tomada pelo tesão, beijei com voracidade aqueles lábios que sorriram para mim durante as últimas três semanas. Eu beijava com vontade, como se estivesse com fome e a boca dele fosse o único alimento disponível.
Ele deleitava-se apertando minha cintura, me abraçando e me apertando para junto de si, enquanto retribua meus beijos com sua língua procurando agitadamente a minha. Nossas bocas se encaixavam harmoniosamente e aqueles calores que antes subiam e desciam pelo meu corpo, agora começavam a se concentrar no meio das minhas pernas.
Me levantei, tirei afobadamente minhas sandálias e minha calça, ao mesmo tempo em que ele se livrava de suas roupas. Lá estava aquele membro lindo, empinado para o céu como se prenunciasse a viagem às estrelas que me proporcionaria. Nunca senti tanta vontade enfiar um pau todo na minha boca. Apesar de toda a minha vontade, eu não sabia o que fazer, ainda sentia um certo acanhamento por conta de minha insegurança.
– Quero que você faça apenas aquilo que tiver vontade – disse-me de forma carinhosa, percebendo a minha ainda timidez. Pensei comigo mesma que não havia mais motivo para me privar daquilo que estava desejando. Meu corpo estava em chamas e, juntando um pouco de coragem com todo o tesão que estava sentindo, resolvi seguir as palavras que havia acabado de ouvir: fazer o que eu tivesse vontade.
Me ajoelhei diante dele e coloquei aquele mastro duro e grande na boca tentando engolir o máximo que podia. Eu chupava, eu lambia, esfregava meu rosto nele. A cabeça daquele pau era tão linda e a pele brilhante convidava a lamber sempre mais. Pedro gemia, olhava para os meus movimentos e sorria. Pegava delicadamente meus cabelos para não forçar minha cabeça, mas forte o suficiente para me deixar ainda mais excitada.
Minha buceta ardia de desejo por aquele pau e rapidamente voltei para seu colo, apenas puxei minha calcinha para o lado, encaixei seu pau em minha entrada e sentei fazendo com que entrasse tudo de uma vez, o que arrancou um gemido alto de nós dois. “Cuidado, não quero te machucar”, ele disse acariciando meu rosto. “Fica tranquilo, não está me machucando, eu quero muito isso”. E assim começamos uma penetração cadenciada que foi nos levando ao delírio. Ele parou de repente e, num movimento ágil, se levantou do sofá comigo encaixada nele e me levou para seu quarto, sua cama. Ergueu minha blusa e a tirou juntamente com meu sutiã.
Ele começou a beijar delicadamente meus seios, que, a essa altura, já tinham os bicos explodindo de duros. Começou a chupá-los com cada vez mais força enquanto minha respiração ficava cada vez mais ofegante. Foi descendo, beijando cada pedaço meu, como se estivesse me saboreando. Aquilo fazia com que eu me sentisse desejada como nunca havia me sentido antes. Parou quando chegou à borda da minha calcinha. Ele me olhava sério como que avisando para eu me preparar. A calcinha, que antes já estava molhada, encontrava-se agora saturada com meu líquido. Foi puxando a calcinha devagar para baixo à medida que beijava e lambia as partes que ficavam descobertas. Assim que se livrou dela por completo, afundou sua boca quente e úmida na minha buceta, que ansiava por aquilo desde o primeiro dia que tinha visto aqueles lábios. Sua língua procurava com avidez meu grelo e impunha nele um ritmo alucinado que arrancava de mim gemidos cada vez mais altos. Comecei a me contorcer de tesão e ele habilmente me conteve pela cintura para continuar seu alvoroçado trabalho com a língua. Senti a musculatura da minha vagina se contraindo cada vez mais, minha respiração começou a ficar ainda mais acelerada, o que me fez transpirar ainda mais, até que senti na minha buceta uma série de pulsações, ondas que iam e voltavam numa frenética intensidade capazes de desprender de mim gemidos por mim desconhecidos até então. Logo depois, uma incrível sensação de relaxamento tomou conta do meu corpo.
Foi então que eu entendi.
Eu acabava de ter o meu primeiro. Não o meu primeiro beijo. Nem meu primeiro homem. Mas o meu primeiro orgasmo. Tudo aquilo que havia sentido em alguns anos de casamento não passava de um rio comparado a um oceano de sensações que estavam negadas a mim. Eu não sabia verdadeiramente o que era um orgasmo até ter tido um.
Transamos o restante da noite e tive outros orgasmos. Me encontrei com Pedro outras vezes e em todas elas nosso sexo foi arrebatador e todos os orgasmos intensos. Depois dele, conheci outros homens e com eles tive experiências sexuais sensacionais. Mas nenhuma delas pode superar o que senti naquele primeiro orgasmo. Porque o meu primeiro orgasmo representou, para mim, não só um orgasmo em uma noite de sexo, mas uma vida livre de amarras e limitações impostas por família e sociedade, em que eu decido ser quem eu quero ser, que tipo de prazer eu quero ter, com quem que eu quero ter. E esse é um marco que toda mulher deve construir em sua vida.
Autora Hellen Garcia