Um bate-papo sem pauta definida e ao mesmo tempo recheado de conclusões.
Lembro da minha tia falando sobre sexo, minha tia-avó, pra ser mais exata nos graus de parentesco, comigo e com minhas primas. Riamos e nos divertíamos enquanto nossas mães, e minha avó, a achavam desbocada, despudorada.
Penso em uma outra conversa, esta recente, com um homem de quase cinquenta anos, que admitiu desconhecer o mundo do bem-estar sexual, nunca ter conversado sobre o assunto com uma parceira e acreditar que qualquer coisa deste “tipo” era para mulheres sozinhas, ou pessoas LGBTQIA+, desconhecendo os inúmeros benefícios do prazer e da satisfação sexual nas relações heteronormativas apesar de praticá-la.
A estas histórias logo conectei a de um casal, amigo de uma amiga, que não faz sexo há meses. E eles, apesar de falar sobre isso com amigos próximos, não falam entre eles e seguem a relação assim.
Rememoro então todos os desconfortos, incômodos e reações que a simples menção da palavra sexo gera em uma roda de conversas, e busco em minhas raízes e na pesquisa formal as razões para tal comportamento.
As explicações são muitas, a começar que séculos atrás tudo que era ligado ao sexo (dos órgãos genitais às relações sexuais, passando pelo prazer) era considerado sujo, pecaminoso e proibido. Diante de tal definição quase não existe educação sexual e em muitas casas e famílias, pouco ou quase nada, se fala sobre sexo e sexualidade.
A falta de clareza levou a criação de crenças equivocadas, que acabaram sendo formadas e reforçadas por anos. Criaram-se também preconceitos, comportamentos incompreendidos, mitos, tabus.
Soma-se a eles o medo da exposição, do olhar e da opinião do outro, do julgamento e da rejeição.
Ana Lúcia Alves, médica ginecologista resume bem o cenário: “A prática sexual é historicamente reprimida, sobretudo em relação à mulher, como se não fosse legítimo vivenciar o sexo apenas por prazer.”
Encontrei a poucos dias uma das nossas assinantes e ela estava animadíssima. Fomos tomar um café e assim que sentamos ela começou a me agradecer. Depois de muitos anos de relacionamento, somando namoro e casamento, ela e o marido tinham conversado sobre desejos, vontades, fetiches, como nunca. E seu agradecimento era por ela ter visto na prática o quanto esta conversa aumentou a intimidade, a cumplicidade e até o desejo entre eles. Ainda sem entender o motivo de eu ser agradecida por tudo aquilo, ela esclareceu que toda a conversa começou com um jogo de cartas, uma brincadeira, que enviamos na box.
Simples? Parece, só que na maioria das vezes não é. Ainda precisamos nos despir, não das roupas e sim das amarras do preconceito, dos tabus, daquilo que é taxado como vergonha, e entender que quanto mais nos conhecermos, falarmos, experimentarmos e explorarmos o prazer, mais energia e bem-estar teremos em nossa vida.
Me vem à mente a música que fez parte de uma das últimas animações da Disney e se tornou um hit nas redes sociais: “We don’t talk about Bruno”, ou em português, “Não falamos do Bruno.” E eu só fico aqui, a pensar, que ainda não falamos de sexo como deveríamos.
Começo então a entender a dificuldade em manter a regularidade nesta newsletter. Como trazer conceitos tão carregados de mitos e falta de informação de forma, leve, prazerosa e consciente?
Assuntos não faltam: masturbação, pornografia, brinquedos eróticos, libido, comunicação, disfunção, nutrição, exercícios pélvicos, fetiches, e muitos outros que nem coloquei aqui. Falta tempo, com certeza, e principalmente falta inspiração diante de tantos bloqueios e repressões.
Buscando uma solução para estes vácuos, decidi convidar profissionais especializados para escrever este conteúdo comigo. Abrir o espaço e trazer mais visões. Então, a partir da próxima semana, vocês também verão por aqui parceiros, amigos e pessoas queridas que são especializadas nestes assuntos e que vão contribuir para ampliarmos cada vez mais esta nossa conversa sobre sexualidade.
Neste intervalo queria te convidar para um exercício. Que tal durante esta semana fazer uma lista de sim, não, talvez?
O que é isto? Você relaciona várias atividades e gestos que podem acontecer nos momentos íntimos e ao lado de cada uma delas você marca se é algo que você gostaria de experimentar, algo que não faria de jeito nenhum ou se tem chance de provar.
O que pode estar na sua lista? Dançar de forma erótica, vendar os olhos, pintar o corpo, usar roupas sugestivas ou fantasias, utilizar brinquedos sexuais, utilizar mordaças, algemas, correntes, cordas, sexo anal, usar chicotes ou açoites, dar ordens, roleplay, swing, ménage, materiais que te excitam, materiais que você nem pensa em usar, e o que mais sua imaginação ou sua memória te incentivarem.
Experimente! Você pode se surpreender e é sempre positivo aprendermos mais sobre nós mesmas.
Ah, nas últimas semanas saíram matérias super legais sobre o que temos feito aqui na Muito Prazer. Te convido a ler e acompanhar.